Juros, ainda escorchantes.
Por Eden Jr.*
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (Bacen), fixou, no final de fevereiro, os juros básicos da economia brasileira em 12,25% ao ano. Essa foi a quarta redução consecutiva da taxa Selic operada pelo Bacen. Para liderar esse movimento de baixa, que era claramente esperado pela maioria do mercado, o Comitê alegou que a taxa de inflação de 2017 já está convergindo para o centro da meta estabelecida para o ano, de 4,5%. A Selic vem caindo desde agosto último, saindo de 14,25% a. a., patamar em que estava desde julho de 2015, para os atuais 12,25% a. a. Essa queda foi, de fato, uma boa notícia? Nem tanto, pois ainda temos os maiores juros reais do mundo (diferença entre a Selic e a inflação) e os tomadores de empréstimos demorarão a sentir, de fato, essa diminuição.
Apesar do corte de fevereiro, o Brasil permaneceu com a taxa de juros real mais alta do mundo, com 7,30% a. a., tendo na sequência Rússia (4,91% a. a.) e Colômbia (2,97% a. a.), segundo MoneYou/Infinity Asset Management. Mesmo países como a Argentina – que vem de uma transição política conturbada; dos populistas Néstor e Cristina Kirchner, para o liberal Mauricio Macri; e que, ademais, aplicou calote em sua dívida externa no início dos anos 2000 e somente em 2016 encaminhou, com os credores, a renegociação dessa moratória – tem juros reais de 1,84% a. a., bem mais brandos que os nossos.
Veja-se que quase nada mudou nesse cenário desde a última reunião do Copom sob o governo Dilma Rousseff, nos dias 26 e 27 de abril do ano passado, em que a Selic foi mantida em 14,25% a. a. Nessa ocasião, também tínhamos os juros reais mais altos do planeta (7,59% a. a.), superando a Rússia (2,59% a. a.) e a China (2,3 % a. a.), conforme MoneYou/Infinity Asset Management. Ou seja, mesmo com a destituição da petista, com o início do processo de reorganização das contas públicas, com a aprovação da PEC do Teto dos Gastos, com o desenrolar a Reforma da Previdência, com um Banco Central que goza de mais autonomia e credibilidade e com a inflação de 2017 projetada para ficar abaixo da meta (4,5%), é difícil explicar, e entender, como ainda somos os campeões mundiais das taxas de juros.
A Selic elevada, se por um lado serve para domar a inflação – nos episódios de descontrole, o que definitivamente não é o caso no momento – por outro, se desarrazoada, inibe o consumo, os investimentos, a expansão econômica e alarga, sobremaneira, o déficit público, dado que os pagamentos de juros da dívida pelo setor público tornam-se cada vez mais imoderados. De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), em 2015 as despesas com juros alcançaram a soma astronômica de R$ 367 bilhões; e em 2016, R$ 330 bilhões.
No plano microeconômico os juros, da mesma forma, continuam exorbitantes para os consumidores, apesar dessas recentes baixas processadas pelo Copom. O Banco Central anunciou que, em janeiro último, os juros do empréstimo rotativo do cartão de crédito bateram um novo recorde, chegando a 486,75% a. a. (15,89% ao mês) e os do cheque especial atingiram 328,30% a. a. (12,89% a. m.).
É possível que boa parte dessa profusão de juros seja explicada pela
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